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A água que só foi pro cinema pelo sistema de cotas

Por Vexille || 13:35:00 || 10 de abr. de 2006
Enquanto você espera a próxima consulta com o Doutor, se delicie com uma resenha cinematográfica na sala de espera.

Quem me conhece (ou se deu ao trabalho de ler o perfilzinho delícia ali do lado) sabe que eu sou um maníaco por filmes de terror, preferencialmente filmes trash. Por isso, eu sofro duplamente quando vejo uma afronta ao gênero como Água Negra.

(Nota: Esta resenha foi feita na base da lembrança, porque eu não vou desembolsar 5 balas pra alugar esta porcaria, nem gastar 700mb do meu espaço em disco só pra fazer uma resenha mais meticulosa.)


Pra começo de conversa, classificar Água Negra como Terror, Suspense ou mesmo Filme Que Dá Sustinhos é a maior filha da putagem da história toda, porque o gênero dessa porcaria é DRAMA. E um Drama muito do sem vergonha. E não digo isso nem porque as cenas de "susto" não te assustam, a menos que tu tenha medo de Goosebumps, e sim porque o fato de que tem um fantasma maligno com poderes de Água Negra e sede de vingança no apartamento compõe 10% do roteiro do filme.

Vale salientar que esse filme é dirigido por Walter Salles, que o fez só de sacanagem, pra poder manchar o nome brasileiro só mais um pouquinho no exterior.

Assim como O Chamado é uma americanização de Ringu, Água Negra é a versão branco-americana de Honogurai Mizu no Soko Kara, que inclusive é do mesmo criador de O Chamado (lembrem-se disso pra uma referência lá na frente). O que me faz tecer uma teoria incontestável: se um filme de terror tiver uma protagonista mulher, o filme vai ser uma merda. Ou no mínimo, medíocre. (Com exceção de O Grito, pelo que o Pedal afirma. Mas ele não tem colhões pra filme de terror, então não boto muita fé.)

Enfim, a historinha singela. Dahlia Sem Sobrenome acaba de se divorciar de Kyle, e está envolvida num processo matrimonial, porque negou dividir a custódia da filhinha Ceci, alegando que o pai morava muito longe (ou num lugar fodido, não lembro), o que levou o senhor Kyle a querer a custódia completa ao molho madeira com entrada de pão-de-alho.



Kyle, o maridão do mal. Ambrose nas horas vagas

Então Dahlia sai em busca de um apartamento para viver uma vida feliz e saudável com sua filha Ceci. Eu quero chamar atenção pra um detalhezinho faceiro desse filme: a guria que faz o papel de Ceci atua, de longe, muito melhor do que os outros atores do filme — o que nos leva a conclusão de que ela vendeu sua alma pra Samara em troca de habilidades de atuação.



Dahlia não tem guarda-chuva. Oh, o drama, o SOFRIMENTO

Enquanto isso, a mulé também procura um adevogado para defendê-la judicialmente contra o ex-marido malvadão, de preferência um baratinho, porque a Dahlia não tem dinheiro nem pra comprar guarda-chuvas. Por sorte, ela encontra um advogado no começo de carreira que é filho da prima da amiga, ou qualquer patifaria dessas, que está disposto a fazer um precinho camarada pra ela.



Advogado semi-coadjuvante fecha negócio, enquanto o negão do fundo planeja dar o ganho do celular do cara

Depois de tentativas frustradas de achar um lugar viável pra morar ("Oh, o apartamento é muito legal, mas não podemos morar aqui, seu dotô, nós somos pobres."), Dahlia encontra o Corretor Safado, que tem o lugar ideal para ela. Ao chegar no prédio, deliciosamente localizado na Puta Que Pariu, o filme nos apresenta ao porteiro/zelador/faxineiro Veeck, imigrante ilegal, o russo mal encarado.

Pra mostrar que Dahlia é, de fato, pobre e só pode pagar por um apê fudido, quando Corretor Safado, Dahlia e Ceci estão indo pro apartamento, o elevador dá uns cacoetes leprosos (também pra justificar umas patifarias que acontecem mais na frente, como a guria ficar presa no elevador por 5 minutos).



O Corretor Safado também tem celular

Eis então que os três chegam no apartamento, e o corretor começa a fazer um tour do lugar. Eles passeiam pelo apartamento, com direito a patifarias divertidas, como a guria ver algum detalhe no meio do nada e olhar desconfiada, porque, como todo mundo sabe, crianças tem um senso apurado para o SOBRENATURAL — são os adultos que não acreditam. Então, o tour chega no banheiro, e o corretor aponta para um detalhe maroto do lugar, "senhora, está vendo essa porta de vidro na banheira? É de vidro REFORÇADO, madame, top de linha! Aposto minhas cuecas que é até à prova de balas!". Nessa hora, aqueles dois neurônios que te dizem que dois mais dois é igual a quatro te fazem perguntar, "por que diabos eu vou querer uma porta de vidro à prova de balas na minha banheira?". Ora, o que fazer se sua casa acaba de ser invadida e você não é Jodie Foster, então não tem um QUARTO DO PÂNICO disponível? Você corre pra banheira.

Depois de uns conflitos com o ex-marido malvado e outras patifarias inúteis que vou relevar, você percebe que já se passou metade da porcaria do filme e nada de sobrenatural aconteceu. Aí o senhor Walter Salles se lembra que, opa, esse filme era pra ser de terror. Então começam a acontecer coisas muito estranhas e fantasmagóricas, como uma goteira no quarto da Dahlia. É. Uma goteira.

Ela reclama com o corretor do mal, que manda Veeck, o zelador da alegria, ir lá fazer um conserto nas coxas. Dali a um tempo, a goteira aparece de novo. Uau, deve ser mesmo obra do ALÉM-TÚMULO.



Ceci humilha a atuação da mãe enquanto se divertem admirando a goteira satânica

Dahler, digo, Dahlia resolve então tomar as rédeas da situação e investigar o motivo de uma goteira tão persistente no penúltimo andar do prédio. Como não poderia deixar de ser, ela não está simplesmente indo no andar de cima ver que porra tá acontecendo pra causar a goteira, ela está tomando o caminho das trevas, indo de encontro ao desconhecido satânico, com direito a musiquinha maligna e corredores escuros do mal.

Ela chega, então, no apartamento exatamente acima do dela, que supostamente estava desocupado, e encontra a porta destrancada. No que ela abre a porta do inferno, o que ela vê? Sim! O apartamento está encharcado de ÁGUA NEGRA! Inundando todo o chão do apartamento e saindo de todas as torneiras, a água negra crioula invade o domicílio.



"Hmmm... Água negra!"

Depois de se divertir no parque aquático que era o apartamento do mal, Dahlia vai atrás do zelador da felicidade, tomar satisfação. O nosso amigo russo diz, então, que isso provavelmente foi obra de dois garotos problemáticos viciados do prédio, que gostam de aprontar brincadeiras desse tipo, e que vai trocar a fechadura da porta.

Entre uma peripécia e outra, Dahlia encontra uma mochila super transada da Hello Kitty quando estava perambulando pela lavanderia, e a leva pra casa. Sendo ela uma verdadeira cidadã modelo, nega o pedido da filhinha de ficar com a mochila, e a dá pro zelador soviético, para que ele tente achar sua dona. Veeck, por ser um cara legal, diz que se ninguém aparecer procurando pela bolsa dentro de uma semana, ela pode levar a mochila.



O corretor dá uma dura no porteiro-zelador. Não vá roubar essa mochila, hein

Depois de algumas cenazinhas enche-linguiça e/ou releváveis, a intrépida Dhalia investiga o apartamento do mal, e descobre que ele perteceu a um casal de russos (!), que tinham uma filha (russa!). A mãe e a filha, Natasha, foram abandonados pelo russo malvado. E, pelo que eu me lembro, um belo dia, a guria desaparece, e depois a mãe foge. Se não for isso, minha versão é melhor. Daí, o filme começa a sugerir que Natasha é de fato a assombração com poderes de água afro-americana.

A maioria dos eventos daí em diante são tentativas pífias de dar um toque de suspense ao filme, como o elevador subindo até o último andar, ao invés do penúltimo, ou descobrirem que a mochilinha da Hello Kitty é na verdade de Natasha (quem poderia ter adivinhado?), ou então uma cena canalha da Dahlia visitando o apartamento das águas e dando de cara com sua MÃE (?) falecida vomitando na privada, depois descobrindo que era só um sonho (pra aumentar o drama, a Dhalia não se dava bem com a mãe, veja você). Então vou pular direto para as cenas finais.

Depois de suas investigações meticulosas sobre o paradeiro de Natasha, Dahlia chega o telhado do prédio. Se você já assistiu O Chamado, sabe que Samara, a menina maligna da TV, morreu afogada num poço. Então. Aí descobrimos que Natasha morreu afogada na CAIXA D'ÁGUA. É o cúmulo da criatividade, gente boa. E não é nem plágio, já que é do mesmo criador, é falta do que fazer mesmo.



=o

Então tá. Dhalia solucionou o mistério das águas negras e da garota russa fantasma, todos podem dormir sossegados agora. Mas espere! Que surpresa incrível, o filme não acabou ainda! A pequena Ceci está brincando tranquila na banheira, enquanto sua mãe faz alguma coisa irrelevante na sala. Então, a guria sai do banheiro com um roupão que, convenientemente, tem um capuz, e senta do lado da mãe. Tudo vai bem, até que a mãe ouve... barulho de torneira vindo do banheiro!

Uma inspeção mais meticulosa por parte de Dahlia revela que a guria ao seu lado é, na verdade, Natasha, que surpresa tremenda. De algum modo esdrúxulo que a minha mente bloqueou, a pequena garota russa diz que tudo que ela quer é que a Dhalia seja sua mamãe. Novamente vemos que o cara que escreveu a história queimou um baseado esperto, se esqueceu que estava escrevendo o roteiro de Água Negra, e escreveu o roteiro de O Chamado. Dhalia nega o teste de DNA no ratinho, e diz que não quer ser sua mãe.

Ora, mas nunca irrite fantasmas de garotinhas russas, pois eles são muito vingativos. Natasha resolve então se vingar na verdadeira filha de Dahlia, que se diverte na banheira. A mãe vai a seu socorro, mas ESPERE! Ela não pode fazer nada porque A PORTA É DE VIDRO REFORÇADO! O FEITIÇO VIROU CONTRA O FEITICEIRO, HÃ!



O vidro, meu Deus. O VIDRO!

Depois de algumas tentativas frustradas de quebrar o super vidro, Dhalia desiste. "Não mate minha filha biológica, fantasma russa, eu serei a sua mãe! Eu serei a sua mãe!". Natasha, então, pára de afogar a melhor atriz do filme e um brilho chega aos seus olhos enquanto ela faz brotar uns jatos de água negra vindos do nada para afogar Dhalia, que vira sua mãe adotiva no mundo dos mortos.

Agora sim, todos vivem felizes para sempre.

Um detalhe bem cafajeste: só de sacanagem, logo antes da morte da mãe, o ex-marido safado e malvado resolve fazer as pazes com Dhalia, só pra aumentar o draminha sem vergonha.

Que esta resenha sirva de aviso. Não veja esse filme. Não assista trailers desse filme. Não olhe para a capa desse filme quando for na locadora atrás de filmes do Alexandre Frota.

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